sábado, 21 de junho de 2008

Debate sobre enredo reúne especialistas no Falando de Samba



Foi na tarde desse sábado, 21, que a segunda edição do Projeto Falando de Samba, na quadra de ensaios da escola de samba Caprichosos de Pilares, reuniu grandes nomes do mundo do samba para discutir sobre enredo. No encontro, o som do intérprete Zé Paulo Sierra e do músico Rafael Prates, no violão, animou o público.

Com apresentação de Marcos Roza, pesquisador de enredo, cineasta e historiador, a mesa de debate teve a presença de Luís Carlos Fininho, vice-presidente do Departamento Cultural da Associação das Escolas de Samba do RJ; a Doutora Helena Theodoro, pesquisadora da cultura afro-brasileira; José Luis, diretor de Carnaval da Mocidade Independente de Padre Miguel; Márcia Lávia, carnavalesca do Império Serrano; Severo Luzardo, carnavalesco do Arranco de Engenho de Dentro; Nilcemar Nogueira, jurada do quesito enredo e vice-presidente do Centro Cultural Cartola; e Júlio César Farias, pesquisador da Unidos da Tijuca.

O seminário, com competência ímpar, trouxe muitas experiências dos debatedores em torno do tema sugerido. Helena Theodoro, por exemplo, lembrou que em 1960, com Fernando Pamplona, o enredo passou a ter nova significação para o Carnaval, quando passou a falar sobre a história do povo, da cultura, resultando em uma afirmação dos elementos que formam a comunidade e sua história. A doutora fez uma referência à situação atual da história carnavalesca.

"_Se as nossas crianças estudassem, nós teríamos uma história bem diferente dentro do Carnaval", lamenta a pesquisadora explicando que "quanto mais pesquisamos, mais percebemos que precisamos estudar sobre nossa função dentro do Carnaval".

Helena levantou questões muito importantes para uma discussão acerca do papel do Carnaval.

"_A luta da escola de samba sempre foi uma luta de inclusão social. Nós não temos força para que nossa luta seja vista, mais do que uma forma de entretenimento, mas como uma forma de repensar o que vivemos. Qual é a liderança política que a escola de samba tem hoje? A escola de samba nasce de forma política", indagou ela referindo-se a Paulo da Portela, que além de sambista foi um líder negro comunitário à organização na base sócio-cultural desses grupos. "O futuro tem comprometimento com a mudança", argumentou.



Na discussão sobre enredos patrocinados e enredos autorais, Mácia Lávia esclareceu que o enredo não deve procurar patrocínio, mas que a escola detenha um mecanismo de captação de recurso que disponibilize recursos que ofereçam condições de manter os gastos da escola e de se desenvolver um enredo sem vinculá-lo ao objeto patrocinado. José Luis defendeu a qualidade dos enredos em relação ao desenvolvimento de pesquisa, à plástica e que sejam aceitos pela comunidade de uma Escola de Samba. Nilcemar Nogueira, por sua vez, disse que tais enredos não se justificam no organismo de uma Escola.

"_O que está acontecendo com o processo cultural? Sambistas começam a se questionar sobre isso e não têm a mesma vontade de defender a sua escola, o seu samba", ressalta ela. "Se um membro da escola, seja qual for o seu segmento, não sente o que ele canta ou se aquele tema nada tem relação com a sua realidade, certamente este enredo não é bom para Escola", complementa Nilcemar lembrando que os carnavalescos têm que se preocupar com a sinopse que é entregue ao compositor, pois, na visão dela, deve ser bem descritiva para facilitar o entendimento do enredo e que haja disponibilidade para várias conversas. "O carnavalesco cumpre seu papel quando se ouve o samba, vemos a fantasia e entendemos o que é contado", explica ela.

Luiz Carlos falou sobre a participação do sambista no desenvolvimento do Carnaval.

"_Eu quero ressaltar a importância do sambista nessa história", defendeu Luiz afirmando que na realidade do grupo de acesso, nem sempre é o que acontece, uma vez que o carnavalesco tem que se render ao patrocínio. "Enquanto componente, a participação é essencial para um resultado significativo do trabalho", acrescentou.

Perguntado sobre a influência da Igreja no Carnaval, Júlio César foi claro.

"_A igreja atrapalha o Carnaval quando quer vetar o uso de imagem e de outros elementos que fazem parte da cultura", explicou ele.

A tarde terminou com uma sugestão coletiva: para que a iniciativa do Projeto Falando de Samba seja realizada de forma itinerante e assim contribuir para um maior entendimento da organização do samba e Carnaval da cidade carioca.

Fotos: Carnaval em Foco
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