Enredo: "Tem francesinha no salão... O Rio no meu coração".
Sinopse
Sou Paris... Paris Tropical. Sou Rio de Janeiro, Cidade Capital.
Nos primeiros anos do século 20, o Rio de Janeiro traduz o espírito sorridente da cultura Belle Èpoque e J. Carlos se diverte enriquecendo os papéis com suas figuras, charges e caricaturas, registrando a partir de seu olhar o cotidiano juvenil à cidade federal.
A Borboleta da Rocinha re-descobre o Rio... Nos traços de J. Carlos risca, esboça, colore a seu feitio... Vence mais um desafio e traz para Avenida uma época preciosa: a Art Nouveau da Cidade Maravilhosa. Chique e charmosa publica, traça e recita, em forma de samba, o nascimento do Rio cosmopolita.
A cidade amanhece. O Rio, no entanto, que é capital da república ainda carece... Um espírito novidadeiro toma conta da cidade, Pereira Passos é nomeado prefeito em nome da civilidade. Não subjugava-se a ordem desse ilustre engenheiro que para sempre mudou a face da cidade do Rio de Janeiro.
Dos tempos em que o sentimento brasileiro era marcado pela imaginação francesa, a Rocinha traz o sonho de uma nova era. Um Rio a serviço da alegria que traçou com humor, contra ou a favor, a vida sócio-política carioca. Tornando-se sujeito verdadeiro e de forte significação na obra de J. Carlos: o carioca do traço.
1904... Inicia-se no centro carioca uma grande intervenção. Em pouco tempo todos, aliados ou não, presenciam erigir novas edificações. Não tinham a certeza de que o encanto e a beleza do Rio se transformaria numa cidade francesa, mas faziam campanhas a favor da saúde e da limpeza.
Certo do que me conduz entrava em vigência o projeto de urbanização e até de vacinação; este inclusive maior do que supus, coordenados pelo então prefeito Pereira Passos e o sanitarista Dr.Oswaldo Cruz.
"Você notou, que eu estou tão diferente.
A água lava lava lava tudo,
A água só não lava, a língua dessa gente".
Na lida da vida o povo aturdido, convive banido a um novo panorama. Na cidade partida o "Bota Abaixo" ganha fama. E só um grito emana: o do povo contra as mudanças que sofre e aflito, reclama! Contudo, o povo não dá a mão à palmatória. Segue sua sina, se revolta contra aplicação da vacina.
Vinham de Paris a alegria do teu olhar e o aroma que da cidade exalava pelo ar.
"Paris de lindas mulheres
De olhos azuis,
Paris Tu és a Cidade da Luz.
Paris Je? taime... Mas eu prefiro o Leme".
A regeneração é geral. Há poucos dias, as picaretas, entoam um "hino jubiloso", de que aqui nascera uma Paris Tropical. Boulevards, charutarias, cafés, confeitarias... Lugares onde a mais simples comemoração se transforma em um dia de festa nacional; que fazem da cultura belle èpoque, uma elegância, sem igual, ainda mais quando se desfilava a bordo de limousines na Avenida Central.
Paz, prosperidade, mais que um sonho, liberdade! Responsável por esse clima entusiástico é o progresso protagonista dos nossos tempos... Esse espírito novidadeiro aguça a criatividade e o humor de J. Carlos que satirizando ilustrou as invenções das diversas máquinas que atravessaram o Atlântico e que aqui chegaram... Inventou uma "máquina de pentear macacos" e uma "de lamber sabão". E nesse embrenhar de novidades o Rio, cresce, aparece e civiliza-se.
O Rio agora é outro, tem progresso e tem leveza, sem contar aquela beleza do aceno amigo no cais. O mesmo Rio das relações formais que fornece a J. Carlos os magistrais registros que recheiam, em gráficos, as revistas semanais.
Seu escritório era o bonde. Viajando, flagrava personagens: homens opulentos, mulheres faceiras, miseráveis, funcionários públicos, donas de casa, políticos. O subúrbio dos leiteiros, vendedores, malandros e mulatas. Os salões elegantes dos almofadinhas, das melindrosas sensuais e dengosas, com bocas em forma de coração e a movimentação das praias cariocas com as primeiras pernas e seios à mostra...
Quando essa questão começou o panorama do humor gráfico nacional se destacou. Nos semanários J. Carlos expressou em charges, caricaturas, desenhos o Rio que tanto amou. Se engana quem pensa que J. Carlos tinha desavença. As suas capas é que promoviam rumores em toda imprensa.
A obra de J. Carlos cativava tanto quem vivia a passear nas chiques Avenidas a beira-mar, quanto quem nas ruas vivia a vagar. O gênio do nanquim viveu a traçar a alma carioca através do seu testemunho ocular.
"O sol do amor que manhãs
De braços dados dois namorados
Já sei Joujoux Balagandãs..."
Tudo como quis Jujuba, Juquinha, Borboleta, personagens gentis que atendiam os chamados das crianças nas diversas aventuras infantis. Em suas andanças J. Carlos criou uma moça, linda como um botão de rosa. Mas dela muito se dizia e o que se conta é que era charmosa e ficou conhecida como carioquinha: a melindrosa.
"Seja em Paris ou nos Brasis
Mesmo distantes somos constantes
Tudo nos une que coisa rara
No amor nada nos separa..."
Contudo, suas criações seguiam uma linha. Entre todos o que menos J. Carlos intervinha era no 'elegante' almofadinha...
Época boa aquela em que todo semanário, a serviço da crítica e do bom humor, tinha a sua clientela. Tico-Tico, Fon-Fon, o Malho e a revista Tagarela. Além da à Cigarra que de tão feminina e singela mais parecia um desfile de moda à passarela.
Registrou a História.
Com charges espirituosas,
ironizava "os inimigos da liberdade".
"Nós vivemos no melhor pedaço da terra.
Calma que a Europa está em guerra!
Nesse Brasil é bem pacata a mocidade não se anda armado, nem se quer de canivete. Enquanto os outros tem batalhas de verdade, nossas batalhas são batalhas de confete (...)"
Mas a vida neste mundo não é como o homem pensa. J. Carlos testemunha e por si julga que a Guerra não compensa. Imprime aos "bombardeios" uma alegria tão intensa, que transplanta à guerra o humor como sentença.
Assim como se viu, em suas charges: imprimia as emoções de uma partida de futebol e a folia de muitos carnavais, das quais, J. Carlos coloriu as duas Guerras Mundiais como pressentiu. Satirizando os seus protagonistas, com a mesma alegria, de que se comemorava carnaval e futebol no Brasil.
J. Carlos dá o ponta pé inicial.
Ô meu senhor!
Que sururu é esse aí no meu quintal?
É todo mundo metendo a colher na área alheia.
E a confusão é geral...
Mas se tem sururu, tem carnaval.
Quero ver passar o tal bloco de palhaços
Lá da Guerra Mundial.
Lá vem o Zé Pereira anunciando o carnaval! Com o seu surdo tocador à cidade estremecer. Que nos dias de folia, tocava pra valer, desfilava levando alegria num 'Evohe de Prazer'.
"Tem francesinha no salão
Tem francesinha no cordão
Ela é um sonho de mulher
Vem do folies bergères
Uh lá lá trés bien!"
E num vai-e-vem é o carnaval do Rio tanta gente a brincar tanta marchinha a cantar.
Lourinha, lourinha
Dos olhos claros de cristal
Desta vez em vez da moreninha
Serás a rainha do meu carnaval
**
"Berço do samba e das lindas canções
Que vivem n'alma da gente
És o altar dos nossos corações
Que cantam alegremente"
O caricaturista dos foliões inspira-se no carnaval das ruas e nos requintes salões à sua criação. Das alegrias do povo às histórias que não tem fim. Juntos bailam Pierrô, Colombina e Arlequim buscando no amor o desejo de dizer que sim...
Eu sou teu Pierrô,
Colombina, Colombina ...
Reparte este amor
Metade pra mim
Metade pro teu Arlequim.
Melindrosas, almofadinhas, malandros, patrões, Reis Momos, cleópatas, palhaços! Brancos, negros e até mulatos... Nessa festa sem recato J. Carlos é sensato e nos deixa um legado, que do Rio é um retrato, a coleção de seus personagens caricatos.
São três dias de folia e brincadeira,
Você pra lá e eu pra cá,
Até quarta feira...
Lá, lá, lá, lá, la, lá,
Lá, lá, lá, lá, la, lá,
Lá, lá, lá, lá, la, lá, lá, la, lá.
A Borboleta da Rocinha traçou em nanquim a sua alegria. Riscou a passarela em poesia... Com o enredo do seu samba: "Tem Francesinha no Salão... O Rio no meu coração", cantou em verso e prosa a criatividade de J. Carlos que desenhou de forma primorosa à cidade do Rio - a cidade maravilhosa.
Carnavalesco: Fábio Ricardo
Pesquisa e texto: Marcos Roza
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quarta-feira, 2 de julho de 2008
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