Lidiane Mague
Colaboração: Wilson Infantino (06.04.08)
O segundo dia do Seminário "Carnaval, carnavais?" teve início com a discussão sobre o significado econômico do Carnaval. A mesa foi formada pelo superintendente da ABIH (Associação Brasileira de Hotéis do Rio de Janeiro) Sérgio Nogueira, pelo publicitário e ex-julgador do Grupo Especial Lula Vieira, o economista Sérgio Rezende e pelo Waltinho, diretor de Carnaval da Império Serrano. Marco Aurélio Reis, editor do Jornal O Dia, foi o mediador.
Antes de se formar a mesa, Hiram Araújo apresentou sua posição contrária ao Carnaval de inverno. Disse, porém, ser favorável à data fixa da festa. Ele lembrou que a propostas de dois carnavais ao ano já foram apresentas sem sucesso anos atrás, a última em 1962. Para ele, um debate é tão importante que sugere uma discussão ampla sobre tudo de Carnaval, e até mesmo a criação de um Congresso Nacional do Carnaval, alegando que o Carnaval tem uma economia própria. Hiram julga o Carnaval Carioca uma evento uno.
Lula Vieira afirma temer modificações bruscas na organização da festa. "Mexer com Carnaval tem que ser consenso nacional. É uma das nossas mais importantes maneiras de se relacionar com o mundo”, diz ele. Alerta que implementar uma data fixa para o Carnaval pode acontecer, desde que a longo prazo, pois seria necessário uma campanha, preparação. Lula definiu a identidade do Carnaval como inimitável.
Sérgio Nogueira aponta que os estudos sobre as mudanças propostas precisam ser minuciosas. "A data fixa e o carnaval fora de época nunca tiveram um trabalho para se aprofundar.” Segundo ele, o Carnaval de meio de ano é perigoso porque as pessoas não estão envolvidas com o produto. Lembra também que a festa é uma cadeia produtiva que se alonga pelo ano inteiro. Quanto à fixação da data, Sérgio alega ser a favor, já que acredita que o turismo seria beneficiado. Segundo ele, a mudança possibilitaria uma melhor preparação dos turistas, tendo em vista que o pacotes são vendidos com muita antecedência.
Sérgio Rezende apresenta dados coletados no ano de 2000, quando foram gerados 400 mil empregos no Rio de Janeiro. Esses valores atualizados pelo IPCA-IBGE, estimam-se cerca de 700 milhões de reais. Sérgio lembra que o faturamento está diretamente ligado ao turismo. Waltinho também se declarou contrário ao Carnaval de meio de ano ele por causa da tradição da data. Ele disse que a opinião pública, a princípio, não é a favor da fixação da data do Carnaval, por causa da tradição religiosa relativa à Quaresma/Páscoa.
Como é a Cobertura Jornalística do Carnaval
Lidiane Mague
Colaboração: Wilson Infantino (06.04.08)
A segunda mesa de debates teve a presença dos jornalistas Aydano André Motta, de O Globo e O Globo Online, Leonardo Bruno, do Extra e Expresso, Miro Ribeiro, das Rádios Manchete e 94 FM, Raphael Azevedo, de O DIA na folia, Anderson Baltar, da Rádio Manchete e TV Globo, Gustavo Henrique, da Rádio Tupi e Cássia Valadão, do site Setor 1.
Cássia Valadão disse acreditar que a cobertura feita pelos sites é boa, contudo pode melhorar. Cássia alegou que há uma repetição de assuntos e um direcionamento específico dos temas. Ela considera que deve haver uma repercussão maior sobre o que acontece nos barracões de todas as escolas.
Para Aydano, o problema na cobertura é a falta de interesse pela classe média. Ele responsabilizou, em parte, o próprio Carnaval pelo fato. Argumentou que a impressa poderia se interessar mais também e que deveria ter Carnaval toda a semana. “A nossa cobertura é pequena, reduzida. Carnaval dura poucos dias, deveria ser o ano inteiro. Isso pode gerar empregos. Acho que nós temos que participar cobrando dos governantes”. Já Leonardo Bruno considera que não há uma estrutura dentro da imprensa para fazer uma cobertura de Carnaval com a qualidade necessária. Bruno disse que para o jornalista de Carnaval, mais de um evento seria satisfatório.
Anderson Baltar colocou o aumento do número de profissionais que fazem a cobertura do Carnaval como um fato positivo. Segundo ele, a internet facilitou muito por ser um espaço livre e não limitar o espaço dos profissionais. Como ponto negativo, citou a falta de interesse da mídia e do carioca. “Nós temos que ter mais amor pelo o que é nosso, por essa festa. Isso se reflete na cobertura dos veículos de comunicação. O mercado de assessoria de imprensa está aquecendo, mas ainda falta alguma coisa”.
Raphael Azevedo disse que os sites têm fundamental importância na cobertura da festa. Raphael explicou que eles acompanham diretamente o que acontece com as escolas, fazem parte do dia-a-dia. Entretanto, criticou as próprias agremiações em relação à divulgação, uma vez que algumas nem possuem assessoria.
Para Miro Ribeiro o Carnaval nenhum representante do poder público se interessa pelo Carnaval. Além disso, a cobertura deveria ter um aspecto político. Ele defende que as escolas criem as suas próprias mídias, a fim de estimularem um interesse maior.
Gustavo Henrique acredita que a cobertura do Carnaval de Inverno estaria atrelada ao interesse. Ele acrescentou que, em relação à cobertura das rádios, a direção da rádio se importa apenas com o dinheiro gerado pelo evento, e não pela festa propriamente dita. Gustavo definiu os blocos de rua e as escolas menores como sendo as bases do Grupo Especial.
A Importância da Preservação da Velha-Guarda e Baianas
Lidiane Mague (06.04.08)
No terceiro debate, a mesa foi formada por Hélio dos Santos, integrante da Associação de Velha-Guarda da Portela, pela Tia Nilda, que é presidente da ala das baianas da Mocidade, pelo professor do Instituto do Carnaval e carnavalesco Jaime Cesário. O mediador foi Rafael Lemos, do Site SRZD-Carnavalesco. O tema foi a importância da preservação da ala das baianas e velha-guarda nas escolas de samba.
Tia Nilda se diz preocupada com o tempo de duração do seu grupo dentro do Carnaval. Argumentou que não sabe até quando estará aqui, então, por isso, aproveita cada momento. Lembrou que completa 63 anos no dia 07/04 (segunda-feira) e que enquanto estiver com disposição, vai “até o bagaço”. Tia Nilda comentou sobre as festas de protótipos. “Já discuti com carnavalesco por causa da roupa da baianas. Ele me disse que quem não tivesse condições de desfilar com o peso da roupa era para tirar da ala. Não tenho coragem de fazer isso”.
Jaime Cezário participou do debate e defendeu a preservação das baianas. Segundo ele, os carnavalescos precisam ter um consciência de as baianas são senhoras e que podem sim adequar a riqueza, o luxo, com materiais alternativos, sem perder a riqueza, para tornar as fantasias mais leves. “Basta o carnavalesco ter consciência e querer preservar a tradição da ala das baianas”. Segundo Jaime, o excesso de modernidade traz modificação das tradições, descaracterizando-as. Velha Guarda e as Baianas perdem um pouco das características próprias por causa da modernidade. E completa: “ a preservação da memória fica.”
Hiram Araújo citou que a ala das baianas da Portela já definiu concursos de samba na escola. Segundo ele, a obra que fosse mais cantada por elas era a campeã. O pesquisador contou também que homens já desfilaram nas laterais das alas. A Estação Primeira foi a escola que primeiro desfilou com a ala das baianas, no ano de 1960, quando ganharam uma ala própria na Mangueira com as características de hoje.
Hélio dos Santos disse cidadania está ligada à preservação das nossas tradições, por isso, enfatizou a importância de se voltar ao passado. Segundo ele, a Velha Guarda é a preservação daescola. “Acabando a Velha Guarda, acaba a escola.” Hélio argumenta que falta mais cobertura da imprensa para a velha-guarda. “Nós não temos competição. Somos uma irmandade. Precisamos do apoio da população e das escolas de samba.” Quanto à mudança de posição da Velha Guarda do início para o fim do desfile ele disse que não está preocupado com a posição do desfile, mas sim com a intenção em caracterizar a Velha Guarda no enredo da escola. “É uma honra encerrar o desfile. O que temos preocupação é porque os carnavalescos estão desconfigurando o padrão da velha-guarda, tentando adequar a ala no enredo”.
Panorama Final
Lidiane Mague (06.04.08)
No último debate do Seminário, o deputado estadual Chiquinho da Mangueira, o presidente da Caprichosos de Pilares, Paulo de Almeida, o presidente da Mocidade Independente de Padre Miguel, Paulo Vianna, e o assessor de imprensa da Associação das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, Mário Roberto, mediados por Thatiana Pagung, compuseram a mesa e falaram sobre “como movimentar o carnaval durante o ano?”.
O deputado Chiquinho da Mangueira afirmou o governador do Rio, Sérgio Cabral, vetou o projeto de lei do Carnaval de Inverno porque, segundo ele, as pessoas que fazem o Carnaval não foram consultadas, ou seja, a Liga, a Associação e as agremiações. Chiquinho considera que o mais importante é investir na infra-estrutura do evento. Ele defende que, ao invés disso, deveríamos incentivar mais os eventos na Cidade do Samba. “Sou a favor do incentivo e do fomento dos eventos na Cidade do Samba”, disse ele. O deputado também é favorável de uma fixar a data do Carnaval. Ele lembrou que com o Carnaval no início de fevereiro as escolas perdem muito dinheiro. Ressaltou ainda que o maior produto que o Brasil tem é o Carnaval.
Paulo Almeida se posicionou contrário aos demais palestrantes em relação ao Carnaval no meio do ano. Explicou que um desfile por ano é muito pouco, embora reconheça que a infra-estrutura ainda é precária. Para Almeida, é possível realizar outro evento, sem ser repetitivo. Ele acredita que outro carnaval poderia gerar mais lucros e empregos. Até porque, conforme argumentou, as férias na Europa acontecem em agosto. Isso possibilitaria que mais turistas viessem ao Brasil nessa época. Almeida recordou que quando a passarela do samba foi construída, muitos sambistas não foram consultados. “Essa grandeza, essa beleza, precisa ser repensada.” Ele acredita que as escolas têm estrutura para se adequarem à nova regra. “Acho que devemos discutir esse assunto. Acho que não devemos dizer simplesmente dizer não”, diz ele.
Para Paulo Vianna “o projeto do deputado Dionísio Lins é altamente demagógico”. De acordo com Vianna, é necessário melhorar a infra-estrutura dos Carnavais. “O deputado deveria fazer um projeto para melhorar as condições de acesso do público”, acrescentou Vianna. Ele afirmou ainda que se deve determinar uma data fixa para o Carnaval, para facilitar a programação dos turistas. “A Igreja é contra? Mentira. A Igreja nunca foi contra. Nunca procuraram a Igreja para conversar”, disse ele. “A cidade do Rio de Janeiro perdeu mais de um bilhão de reais por causa do Carnaval no início de fevereiro. Este projeto tem que envolver o nível federal, o estadual e o municipal”.
Mário Roberto também se colocou contrário ao Carnaval fora de época, pois a lei não englobaria as agremiações filiadas. Ele afirmou que foi feito um pedido ao deputado Dionísio Lins, autor do projeto, para maiores informações a respeito da lei, mas não houve retorno. Mário ressaltou que o Carnaval não é centrado no mega-evento, pois há outras agremiações, como os blocos. “Pelo que saiu na imprensa, o projeto só englobaria o Grupo Especial e o Grupo A, mas temos outras escolas filiadas. Já tivemos a oportunidade de conversar com algumas agremiações e nesse primeiro momento elas se mostraram contrárias", afirmou.
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