sábado, 19 de abril de 2008

CARNAVAL, CARNAVAIS? - OS SIGNIFICADOS ECONÔMICOS E SIMBÓLICOS DA MAIOR FESTA POPULAR DO PAÍS

No início do mês de abril, aconteceu o Seminário "CARNAVAL, CARNAVAIS? - OS SIGNIFICADOS ECONÔMICOS E SIMBÓLICOS DA MAIOR FESTA POPULAR DO PAÍS", organizado pelo Instituto do Carnaval e pelo site SRZD.

Seguem abaixo as matérias feitas na ocasião:

Carnaval: Visão econômica x visão simbólica

Lidiane Mague (04.04.08)


O primeiro tema abordado foi "Carnaval: Visão econômica x visão simbólica", com a participação do Dr. Hiram de Araújo, diretor do Instituto de Carnaval; Felipe Ferreira, pesquisador de carnaval; Luís Carlos Magalhães, pesquisador e colunista de O DIA Folia; Bruno Filippo, do Instituto do Carnaval; e Lamartine Pereira, historiador, o professor do Instituto do Carnaval e jornalista de O Globo Marcelo de Melo foi o mediador.


Lamartine Pereira começou seus comentários afirmando que o Carnaval teve de se ajustar à nova realidade ocasionada pela invasão midiática na festa popular. Ele disse que atulamente, tudo está reduzido a questões econômicas e à gestão. Entretanto, não se pode esquecer o significado central do evento, que é o legado. “No Carnaval, o essencial é o legado cultural", disse ele. “A idéia de que o econômico tem que prevalecer é equivocada.” Lamartine lembrou que a China gastou cerca de US$ 32 bilhões na realização das Olimpíadas, mas o governo chinês tem como grande preocupação preservar a cultura de seu país. Segundo Lamartine, o caminho não é o da opinião nem o do decreto, mas o dos estudos, pois o legado deve vir em primeiro plano. A importância dos estudos se dá no impacto que tais mudanças acarretam na sociedade. Ele acrescentou ainda que o Carnaval é “um produto cultural que é vendido como mercadoria para uma sociedade capitalista que é a nossa. O problema é a exacerbação disso.”


Em seguida, Dr. Hiram de Araújo destacou que a evolução do Carnaval acontece por etapas. Segundo ele, houve uma grande transformação com a valorização das artes plásticas nos desfiles das escolas, quando o Carnaval deixou de se apresentar na Av. Rio Branco, tornando-se auto-suficiente.


Para o pesquisador Felipe Ferreira, todo o apelo do Carnaval vem justamente porque esse evento ter origem popular, sem que inicialmente houvesse interferências do poder público. “Somente a partir da década de 30, com o então prefeito Pedro Ernesto, o Carnaval passou a ter datas fixadas, locais mais apropriados etc. Hoje, é preciso encontrar o equilíbrio no Carnaval, tendo em vista todos os interesses que fazem parte desse evento, como a política, a economia e, principalmente, a cultura." Ferreira diferenciou, a pedido de Bruno Filippo, Carnaval e carnavalização. De acordo com ele, Carnaval é a festa que tem sua data fixada pela Igreja. Já carnavalização é um conceito que se baseia na inversão, no deboche, no exagero. Um Carnaval de inverno, portanto, seria carnavalização. Ele ressaltou que não se trata de fazer vários Carnavais como acontece na Bahia, até porque são coisas diferentes. A Bahia não tem o Carnaval atrelado à Igreja como é o caso do Rio de Janeiro. Talvez a saída seja criar um grande evento que envolva as festas que acontecem durante o ano, tal como a escolha de samba-enredo, considerou o pesquisador.


O colunista Luís Carlos Magalhães afirmou que seu compromisso é com a emoção do Carnaval e tem receio que o interesse econômico se sobreponha ao interesse cultural, deixando de ser um espetáculo para ser um produto econômico, uma mercadoria. “Tenho medo que o Carnaval se torne um produto, como uma simples pasta de dente, por exemplo". Segundo Luís Carlos, é preciso preservar valores. Não participei das outras mesas do primeiro dia do seminário, mas disponibilizo a seguir as matérias publicadas no site SRZD-Carnavalesco sobre o que foi debatido no dia 04/04.


Enredo como quesito fixo de desempate
Alberto João (04.04.08)

Na segunda mesa de debate sobre os pesquisadores de enredo, o jornalista Cláudio Vieira e os pesquisadores Alex Varela, Júlio César Farias, Patrícia Toscano, José Antônio, Marcos Roza e Glória Salomão falaram sobre essa nova profissão que surgiu no Carnaval.


Segundo Júlio Cesar Farias, os pesquisadores de enredo surgiram quando os acadêmicos entraram nas escolas de samba. Para Alex Varela, o enredo carrega uma proposta pedagógica e funciona como órgão transmissor de conhecimento e cultura.


Durante sua fala, Cláudio Vieira defendeu que o enredo seja apontado como quesito fixo de desempate na apuração das escolas de samba. "Ele é a mola de todo o desfile".

Cláudio Vieira afirmou que não acredita em uma crise de existência na hora da criação dos enredos. Segundo ele, o carnaval vive uma crise financeira. "Precisa de dinheiro para ter o suporte. Hoje, a escola não pode levar apenas uma boa idéia para Avenida. O patrocinador não é vilão. Além disso, eu vejo que muitas idéias não são carnavalizadas".

Alex Varela explicou que em alguns momentos, o carnavalesco fica com dificuldade de transmitir o enredo para parte artística, que pode ser comprometida. Nesse contexto, Júlio César Farias avisou que a parte artística também interfere no trabalho do pesquisador.

Marcos Roza afirmou que o carnavalesco começa o seu trabalho, quando todo o histórico do enredo é criado. Somente depois dessa etapa é que o carnavalesco começa o processo de desenho de alegorias e fantasias.

"O nosso trabalho é o primeiro. Ele começa em março e termina no fim de dezembro, quando o livro abre-alas (referência para o jurado) é dado para Liesa", disse Júlio César.


Carnaval 2009 com outra gestão no julgamento do Acesso
Rafael Leal (04.04.08)

Na terceira mesa de debates sobre o poder público e os eventos carnavalescos, a Secretaria das culturas do Município do Rio de Janeiro, representada por Roberta Alencastro, juntamente com Jorge Celestino, da Riotur, e Luis Fernando Reis, do SRZD, analisaram a importância dos orgãos públicos no Carnaval carioca.

Segundo Roberta, é importante resssaltar que o Carnaval no Rio não se inicia apenas no domingo, mas muito antes, com os diversos blocos de rua espalhados por toda cidade. Além disso, é preciso cuidado ao tentar trazer eventos carnavalescos para o meio do ano. "Precisamos avaliar com muito critério o impacto de trazer esses eventos para meados do ano. O calendário do Rio já é muito rico em atividades culturais nessa época." Roberta se diz preocupada com a chegada de festas típicas de outras regiões do país, que acabam se sobrepondo às práticas já presentes no Rio. Ela afirma que é preciso privilegiar os eventos locais, que nos últimos anos ganharam muito apelo popular.


O comentarista Luis Fernando Reis é a favor do Carnaval no meio de ano, mas vê um complicador: a idéia partiu de cima, dos políticos, e não daqueles que estão envolvidos e vivem do Carnaval, que são na verdade os maiores atingidos. "Vi com bons olhos o Carnaval fora de época, mas é uma decisão complicada, visto que as escolas não foram consultadas sobre o assunto. O que poderia ser feito é um desfile das escolas, mas tendo o cuidado de preservar o evento maior no início do ano."


Para o representante da Riotur, Jorge Celestino, o Sambódromo poderia ser melhor aproveitado, embora já sejam realizados no local diversos shows durante todo o ano. "Tudo é válido, desde que não se atrapalhe a festa principal. A área da Apoteóse poderia ser mais trabalhada, mas desde que fosse feito um estudo de viabilidade com certa antecedência. De fato, o Carnaval poderia ter uma maior participação no local."


Outro assunto abordado foi o julgamento das escolas de samba. Roberta afirmou que foi criado um modelo para julgar o desempenho das agremiações na avenida e que esse projeto está no caminho certo. "Não é fácil perder o Carnaval. Criamos um modelo, sofremos pressão, mas implementamos um processo, que entendo que esteja no caminho certo. A secretaria das culturas e o município deixam a próxima gestão munidas de um processo que acreditamos ser o melhor para o Carnaval."


"Sei de várias pessoas que ensaiam e não desfilam´"

Vicente Almeida (04.04.08)


É possível movimentar o carnaval durante o ano? Foi o tema de mais uma mesa de discussão no Seminário “Carnaval, carnavais?” organizado pelo site Srzd-Carnavalesco junto a Universidade Estácio de Sá, o carnavalesco da Grande Rio Cahê Rodrigues, o Rei Momo Alex Oliveira e a porta-bandeira da Unidos da Tijuca Lucinha Nobre, se dedicaram a discutir o tema de uma maneira muito objetiva, mostrando o que pode ou não ser feito em relação a construção de um novo carnaval no meio do ano.

Lucinha Nobre provocou uma polêmica quando declarou conhecer algumas pessoas que participam de ensaios técnicos em várias escolas e não desfilam. Dizendo ser contra a introdução de um carnaval fora de época, a porta-bandeira se mostrou preocupada com a possível desvalorização dos componentes. “O ensaio técnico serva para entrosarmos o canto da escola, eu sei de várias pessoas que ensaiam e não desfilam”.


Cahe declarou ser contra a produção de um carnaval nas proporções do que já acontece no começo do ano. “Os carnavalescos já ficam loucos com a montagem de um desfile, imagina de dois. Seria praticamente impossível conciliar dois desfiles de tamanha proporção”. O carnavalesco ainda citou o problema que o gigantismo das alegorias vem trazendo para a preparação do carnaval, onde muitas escolas, mesmo com o conforto da Cidade do Samba, finalizam suas alegorias na parte externa do barracão exclusivamente por falta de espaço. O Rei Momo ressaltou a importância do retorno financeiro e turístico que esse evento traria a cidade do Rio de Janeiro. Dando ênfase ao que seria cantado nessa festa de meio de ano se seria um novo samba ou uma reedição, Alex finalizou dizendo que uma festa no meio do ano não seria carnaval.

Nenhum comentário: